tipo: Documentos
publicado em: 09 de junho de 2009
por: Demi Getschko
idiomas:
publicado em: 09 de junho de 2009
por: Demi Getschko
idiomas:
Demi Getschko* - 09 de junho de 2009
Fonte: Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação 2008
A Internet representa em muitos setores uma radical ruptura na forma, no modelo e no próprio conceito de relacionamento, tanto social como o das transações. Uma transformação figadal que, certamente, acarreta previsível e inevitável reação por parte do status quo. Quanto das mudanças vingará e quanto será “domesticado” pelo sistema vigente é a pergunta a se tentar responder e, para isso, a forma pela qual a rede se expandiu pode nos dar parte da resposta.
Diz-se que “os anos Internet são ‘anos de cachorro’”. E não há nesta frase nenhum sentido pejorativo... É que cada “ano canino” corresponderia a sete “anos humanos”, ou seja, o tempo para o cão passa sete vezes mais rapidamente que para o homem. Assim também parece ser o “tempo da Internet” em relação ao tempo que conhecíamos.
A história da Internet no Brasil começa no final dos anos 1980, mais precisamente em setembro de 1988, quando uma conexão internacional dedicada e perene ligou a então ainda incipiente iniciativa brasileira de redes acadêmicas ao mundo. Seus primeiros usuários, pesquisadores, alunos e professores, tiveram acesso à maravilha do correio eletrônico, a bases de dados no exterior e, mesmo, ao acesso à rede mundial de computadores. Não era, ainda, a Internet. A essa só nos conectamos em 1991, ainda sem saber da magnitude do impacto que estava por vir.
Até 1994, os usuários da rede eram os acadêmicos, uns poucos órgãos de Governo e algumas organizações não governamentais. Em 1994, com o advento dos primeiros provedores de acesso e a migração maciça das antigas BBSs (Bulletin Board Systems) para a rede, empresas brasileiras e o público em geral tiveram contato com a Internet.
No início dos anos 1990 ocorre um fenômeno que, além de modificar drasticamente características da rede, revolucionou comportamentos, trouxe massas imensas de usuários à rede e passou, mesmo, a se confundir com a Internet. Foi o advento da WWW (World Wide Web), a teia mundial que trouxe para a Internet a multiplicidade de meios, a possibilidade de estender a todos o direito à expressão de suas idéias, opiniões e conteúdos.
O internauta deixava de ser um técnico especializado em computação e passava a ser todo e qualquer cidadão interessado em informar-se, vasculhar a rede, ou trazer conteúdo próprio, contribuindo para sua expansão.
O Comitê Gestor da Internet no Brasil, entidade criada para administrar recursos centrais de uma rede altamente descentralizada e colaborativa, data de maio de 1995. No Brasil, outro evento favorável somou-se ao cenário: dentre os primeiros provedores de acesso estavam alguns dos mais importantes órgãos de informação, que usaram seu conteúdo como forma de atrair público. Assim proviam não apenas acesso à rede, mas, também, conteúdo em língua portuguesa. A Internet no Brasil nascia sob promissora estrela e o conteúdo em português floresceu rapidamente, eliminando a barreira de entrada que o uso do inglês – a língua franca da rede – representaria.
A explosão da “Internet comercial” no Brasil ocorreu simultaneamente com o fenômeno mundial, a partir de 1995. Um exemplo clássico citado com freqüência é o da primeira pizza encomendada nos Estados Unidos pela Internet (e entregue!), em 1994. E do primeiro banco virtual, ou entidade financeira para transações na rede, o First Virtual Bank, criado para operar sobre a Internet, também em 1994.
A euforia dos negócios via rede e da valorização exponencial dos ativos virtuais atingiu seu ponto máximo em janeiro de 2000, quando a AOL, empresa do mundo virtual, à época com 15 anos de existência, comprou a Time Warner, quase centenária e pertencente ao “mundo real”. Claramente havia uma exacerbação de expectativas e de especulação, o que gerou o que se chamou “a bolha da Internet”, que se romperia no mesmo ano 2000.
As “cassandras” da nova economia não tardaram a criticar a evanescência do desconhecido e instável “mundo virtual, dos bits” quando comparado ao sólido e conhecido “mundo real, dos átomos”. Entretanto, o movimento pendular buscou seu equilíbrio na direção do mundo eletrônico, que viera para ficar.
No Brasil, a “bolha” também foi sentida, com a quebra de muitas empresas jovens e ambiciosas, que não tiveram a arte necessária para sincronizar seus passos rumo ao futuro com a realidade do mercado. O verdadeiro profeta não é o que acerta na profecia, mas o que acerta principalmente na cronologia da profecia. Um dia, é bem provável, as profecias, as mais ousadas, terão se realizado, mas apenas os que acertaram a “medida exata” e o “tempo correto” terão se beneficiado dessas previsões...
Aprendida a lição da “bolha”, a Internet voltou ao seu destino: crescer e alterar totalmente o ambiente social e econômico. Um exemplo marcante é o prosperar constante das redes sociais, a criação de repositórios colaborativos de conhecimento, como a Wikipedia, e a disseminação de código livre e aberto. A discussão sobre as novas formas de produção de riqueza, que encompassam a colaboração em grau inusitado entre milhares de parceiros, sem considerar fronteiras culturais e geográficas, a contestação de paradigmas de propriedade cultural, a proposição de modelos globais de economia, de ética, de legislação, a capacidade da Internet de sobrenadar mesmo em face das mais duras tentativas de censura e de limitação é extensa e não será abordada, por mais apaixonante que seja. Limitemo-nos à análise mais comezinha.
Desde seu início, as taxas de crescimento da rede no Brasil foram bastante altas. O “número mágico” para a Internet estava perto de 20% nestes últimos anos. Ou seja, os principais indicadores referentes às atividades do brasileiro via rede mostraram uma taxa de crescimento próxima de 17% ao ano.
Estamos vivendo tempos muito interessantes, no limiar de algo que apenas vislumbramos e que, ao mesmo tempo, assusta e apaixona. Sigamos em frente!
* Demi Getschko, Diretor-Presidente do NIC.br.
Como citar este artigo:
GETSCHKO, Demi. Internet, Mudança ou Transformação?. In: CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil). Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação 2008 . São Paulo, 2009, pp. 49-52.
Fonte: Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação 2008
A Internet representa em muitos setores uma radical ruptura na forma, no modelo e no próprio conceito de relacionamento, tanto social como o das transações. Uma transformação figadal que, certamente, acarreta previsível e inevitável reação por parte do status quo. Quanto das mudanças vingará e quanto será “domesticado” pelo sistema vigente é a pergunta a se tentar responder e, para isso, a forma pela qual a rede se expandiu pode nos dar parte da resposta.
Diz-se que “os anos Internet são ‘anos de cachorro’”. E não há nesta frase nenhum sentido pejorativo... É que cada “ano canino” corresponderia a sete “anos humanos”, ou seja, o tempo para o cão passa sete vezes mais rapidamente que para o homem. Assim também parece ser o “tempo da Internet” em relação ao tempo que conhecíamos.
A história da Internet no Brasil começa no final dos anos 1980, mais precisamente em setembro de 1988, quando uma conexão internacional dedicada e perene ligou a então ainda incipiente iniciativa brasileira de redes acadêmicas ao mundo. Seus primeiros usuários, pesquisadores, alunos e professores, tiveram acesso à maravilha do correio eletrônico, a bases de dados no exterior e, mesmo, ao acesso à rede mundial de computadores. Não era, ainda, a Internet. A essa só nos conectamos em 1991, ainda sem saber da magnitude do impacto que estava por vir.
Até 1994, os usuários da rede eram os acadêmicos, uns poucos órgãos de Governo e algumas organizações não governamentais. Em 1994, com o advento dos primeiros provedores de acesso e a migração maciça das antigas BBSs (Bulletin Board Systems) para a rede, empresas brasileiras e o público em geral tiveram contato com a Internet.
No início dos anos 1990 ocorre um fenômeno que, além de modificar drasticamente características da rede, revolucionou comportamentos, trouxe massas imensas de usuários à rede e passou, mesmo, a se confundir com a Internet. Foi o advento da WWW (World Wide Web), a teia mundial que trouxe para a Internet a multiplicidade de meios, a possibilidade de estender a todos o direito à expressão de suas idéias, opiniões e conteúdos.
O internauta deixava de ser um técnico especializado em computação e passava a ser todo e qualquer cidadão interessado em informar-se, vasculhar a rede, ou trazer conteúdo próprio, contribuindo para sua expansão.
O Comitê Gestor da Internet no Brasil, entidade criada para administrar recursos centrais de uma rede altamente descentralizada e colaborativa, data de maio de 1995. No Brasil, outro evento favorável somou-se ao cenário: dentre os primeiros provedores de acesso estavam alguns dos mais importantes órgãos de informação, que usaram seu conteúdo como forma de atrair público. Assim proviam não apenas acesso à rede, mas, também, conteúdo em língua portuguesa. A Internet no Brasil nascia sob promissora estrela e o conteúdo em português floresceu rapidamente, eliminando a barreira de entrada que o uso do inglês – a língua franca da rede – representaria.
A explosão da “Internet comercial” no Brasil ocorreu simultaneamente com o fenômeno mundial, a partir de 1995. Um exemplo clássico citado com freqüência é o da primeira pizza encomendada nos Estados Unidos pela Internet (e entregue!), em 1994. E do primeiro banco virtual, ou entidade financeira para transações na rede, o First Virtual Bank, criado para operar sobre a Internet, também em 1994.
A euforia dos negócios via rede e da valorização exponencial dos ativos virtuais atingiu seu ponto máximo em janeiro de 2000, quando a AOL, empresa do mundo virtual, à época com 15 anos de existência, comprou a Time Warner, quase centenária e pertencente ao “mundo real”. Claramente havia uma exacerbação de expectativas e de especulação, o que gerou o que se chamou “a bolha da Internet”, que se romperia no mesmo ano 2000.
As “cassandras” da nova economia não tardaram a criticar a evanescência do desconhecido e instável “mundo virtual, dos bits” quando comparado ao sólido e conhecido “mundo real, dos átomos”. Entretanto, o movimento pendular buscou seu equilíbrio na direção do mundo eletrônico, que viera para ficar.
No Brasil, a “bolha” também foi sentida, com a quebra de muitas empresas jovens e ambiciosas, que não tiveram a arte necessária para sincronizar seus passos rumo ao futuro com a realidade do mercado. O verdadeiro profeta não é o que acerta na profecia, mas o que acerta principalmente na cronologia da profecia. Um dia, é bem provável, as profecias, as mais ousadas, terão se realizado, mas apenas os que acertaram a “medida exata” e o “tempo correto” terão se beneficiado dessas previsões...
Aprendida a lição da “bolha”, a Internet voltou ao seu destino: crescer e alterar totalmente o ambiente social e econômico. Um exemplo marcante é o prosperar constante das redes sociais, a criação de repositórios colaborativos de conhecimento, como a Wikipedia, e a disseminação de código livre e aberto. A discussão sobre as novas formas de produção de riqueza, que encompassam a colaboração em grau inusitado entre milhares de parceiros, sem considerar fronteiras culturais e geográficas, a contestação de paradigmas de propriedade cultural, a proposição de modelos globais de economia, de ética, de legislação, a capacidade da Internet de sobrenadar mesmo em face das mais duras tentativas de censura e de limitação é extensa e não será abordada, por mais apaixonante que seja. Limitemo-nos à análise mais comezinha.
Desde seu início, as taxas de crescimento da rede no Brasil foram bastante altas. O “número mágico” para a Internet estava perto de 20% nestes últimos anos. Ou seja, os principais indicadores referentes às atividades do brasileiro via rede mostraram uma taxa de crescimento próxima de 17% ao ano.
- Em 2008, quase metade dos brasileiros já havia tido acesso à rede de alguma forma.
- O crescimento dos que têm acesso à rede em banda larga é maior do que os que têm acesso via linha discada, o que mostra uma migração para a conexão permanente, especialmente nos centros metropolitanos. Notemos que há uma mudança radical na postura do internauta quando este passa a se despreocupar com o tempo de acesso à rede e torna-se, virtualmente, uma presença permanente.
- Entre os que usam a rede, 16% já fizeram transações comerciais vai Internet. Se agregarmos a esse fato a inequívoca tradição do sistema bancário brasileiro em se utilizar de meios eletrônicos desde os anos 1970, fica clara a aposta certa no crescimento dos números do comércio eletrônico na rede.
- A participação do Governo, através de ferramentas que permitam o acesso a serviços e sistemas via rede, foi importante desde o começo. Basta citar o impressionante (em termos mundiais!) uso da Internet para entrega de declarações de Imposto de Renda e a disponibilidade de serviços públicos pela rede.
Estamos vivendo tempos muito interessantes, no limiar de algo que apenas vislumbramos e que, ao mesmo tempo, assusta e apaixona. Sigamos em frente!
* Demi Getschko, Diretor-Presidente do NIC.br.
Como citar este artigo:
GETSCHKO, Demi. Internet, Mudança ou Transformação?. In: CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil). Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação 2008 . São Paulo, 2009, pp. 49-52.